terça-feira, junho 20, 2006

Comentando

Mais que irresponsável é a divulgação, através da mídia, de verdadeiras agressões aos mais elementares princípios de cidadania, feitas por falsos intelectuais, sugerindo medidas absurdas de repressão para acabar com o que eles chamam de “crime organizado”.
A análise desse tipo de manifestações nascidas em momento de intensa emoção mostra a tentativa de se jogar a culpa de todas as ocorrências ocorridas nas ruas de São Paulo, nos presos, sem se levar em conta de que são eles frutos do meio, muitas vezes, mais vítimas do que réus, enjaulados como feras, em celas diminutas, infectas, imundas.
Inútil, pois, toda de só atacar os efeitos, sem buscar soluções definitivas para as causas de um comportamento inadequado, violento e condenável dos membros e simpatizantes do PCC.
Sem qualquer escrúpulo, aquelas a quem chamamos de “profetas do passado” procuram dar conotação político-partidaria às ocorrências insinuando que, “se os governantes tivessem construído há 10 ou 12 anos mais escolas, não seria preciso, construir agora, tantos presídios...”
Qualquer pessoa, medianamente inteligente sabe que prédios escolares, tão somente, não resolvem o problema da educação, haja vista a escola peripatética, adotada por Aristóteles e que tantos frutos produziu!
Um simples exercício de memória há de nos falar de acontecimentos, alguns bem recentes, que podem estar construindo um imenso painel, inspirador e formador do inconsciente coletivo, em cujas raízes podemos encontrar as causas capazes de provocar atitudes extremamente belicosas, como as do PCC, na capital paulista;
Entre eles, está a absolvição dos parlamentares acusados de corrupção pelas CPIs, num país onde a injustiça social é gritante, onde a família se desestrutura a passos largos, em que aumenta o abismo que separa pobres de ricos, onde existe incomparável inversão de valores e tantos outros fatores mais, que produzem tantos descontentamentos!
Decifrar todo esse emaranhado é um penoso exercício de antropologia social e não será através de debates, onde todos dizem muito mas ninguém diz nada, que se chegará a uma solução final.
Esperar que os chamados crimes do colarinho branco sejam punidos por aqueles que legislam em causa própria, é acreditar em Papai Noel ou no coelhinho da Páscoa...
Mesmo que haja, entre os condenados pela justiça, um ou outro egresso das oligarquias, sabemos que medidas protelatórias vão adiando o cumprimento da pena, até que ela caia no esquecimento ou prescreva, de maneira inapelável.
Assim, estabelece-se a sensação da impunidade que, aliada a outros fatores culturais, como podemos inferir de frases como “bandido bom é bandido morto”, “estupra, mas não mata”, “temos que levar vantagem em tudo” e tantas outras formam o caldo de cultura para a eclosão da violência, com a morte covarde de policiais e de suspeitos, como vimos.
Infelizmente, todas as medidas repressoras tomadas agora pelo Congresso Nacional, jamais poderão resolver o problema, porque o condenado pode ser tudo, menos burro e sabe o que há por trás dessas medidas!
Sabe ele que “bandido é bandido” e “polícia é polícia” e que o marginal é fruto da desagregação social sendo que, quanto mais violenta for a sociedade, mais violento será o marginal e, desta verdade, não podemos nos livrar, mesmo que queiramos “tapar o sol com a peneira” esquecendo Vidigal, os mendigos da Sé e Eldorado dos Carajás!