Carmita Loures - LIções da infância
Uma das mais antigas lembranças do passado leva-me à primeira infância, em Mirai.
Morávamos numa casinha, bem próximo ao Rio Muriaé e esta vizinhança era motivo de constantes preocupações de minha mãe, assoberbada com os serviços domésticos e a criação de quatro filhos, todos menores.
Ao anoitecer, costumava ela nos reunir a todos para contar histórias, sem deixar de repetir aquela em que um cavaleiro, para ir á cidade, pela manhã, tinha atravessado um riacho mas que, ao voltar, pela tardinha, havia sido surpreendido por uma grande chuva e uma inundação imprevista.
Gostando de enfrentar desafios e confiando nas firmes patas de sua montaria, o homem resolveu atravessar a enchente, naquele mesmo ponto em que havia passado, pela manhã.
Revoltadas águas, no entanto, não permitiram a tranqüila travessia e levaram cavalo e cavaleiro na enxurrada, matando os dois...
No seu jeito macio de convencer pelas palavras, dona Carmita Loures, nossa mãe reforçava os argumentos e narrava muitas histórias de valentões, homens grandes e temidos que, no decorrer do tempo, haviam sido mortos por outros, tidos como fracos e covardes...
Desta forma, ela ia nos ensinando as lições da vida e, talvez por isso, tenha eu o costume de respeitar forças aparentemente inferiores às minhas, numa autodefesa plenamente conhecida por aqueles que tiveram a oportunidade de viver a deliciosa vida de uma pequena cidade do interior.
E é quase certo que fatos assim, fizeram de mim um pacifista, incapaz de entender a razão das guerras nem de aceitar que o direito da força suplante a força do direito...
Mais que pelas palavras, minha mãe procurava dar o exemplo de dignidade, de respeito humano e de preocupação, em relação à correta formação do caráter dos filhos, nos mais ínfimos detalhes.
Um deles – lembro-me muito bem -, era o cuidado com que, nas frias manhãs de inverno, ela acordava mais cedo, colocando brasa no ferro de passar roupa e, com ele, esquentava as blusas dos uniformes escolares, minha e de minhas irmãs, para que, ao vesti-las, não sentíssemos o desconforto do frio intenso.
Lembrar dessas coisas é, sem dúvidas, voltar ao passado com emoção, com saudades do tempo que não volta mais e de uma mulher, em tudo, especial!
Há, em mim, a certeza de que, se todos os homens tivessem ouvido, na primeira infância, a história do riacho e dos valentões que haviam sido mortos por pessoas aparentemente fracas e covardes, certamente haveria paz no mundo!
Estaríamos formados para a vida pois teríamos aprendido a respeitar as fraquezas aparentes ou momentâneas e não haveria lugar para atitudes belicosas, como as que vemos, no dia a dia de nossas vidas.
Reinaria a paz, nem que fosse motivada pelo instinto de autodefesa mas seria pedir muito, querer que todas as mães do mundo fossem iguais àquela que orientou meus primeiros passos, na “aurora de minha vida”...
Morávamos numa casinha, bem próximo ao Rio Muriaé e esta vizinhança era motivo de constantes preocupações de minha mãe, assoberbada com os serviços domésticos e a criação de quatro filhos, todos menores.
Ao anoitecer, costumava ela nos reunir a todos para contar histórias, sem deixar de repetir aquela em que um cavaleiro, para ir á cidade, pela manhã, tinha atravessado um riacho mas que, ao voltar, pela tardinha, havia sido surpreendido por uma grande chuva e uma inundação imprevista.
Gostando de enfrentar desafios e confiando nas firmes patas de sua montaria, o homem resolveu atravessar a enchente, naquele mesmo ponto em que havia passado, pela manhã.
Revoltadas águas, no entanto, não permitiram a tranqüila travessia e levaram cavalo e cavaleiro na enxurrada, matando os dois...
No seu jeito macio de convencer pelas palavras, dona Carmita Loures, nossa mãe reforçava os argumentos e narrava muitas histórias de valentões, homens grandes e temidos que, no decorrer do tempo, haviam sido mortos por outros, tidos como fracos e covardes...
Desta forma, ela ia nos ensinando as lições da vida e, talvez por isso, tenha eu o costume de respeitar forças aparentemente inferiores às minhas, numa autodefesa plenamente conhecida por aqueles que tiveram a oportunidade de viver a deliciosa vida de uma pequena cidade do interior.
E é quase certo que fatos assim, fizeram de mim um pacifista, incapaz de entender a razão das guerras nem de aceitar que o direito da força suplante a força do direito...
Mais que pelas palavras, minha mãe procurava dar o exemplo de dignidade, de respeito humano e de preocupação, em relação à correta formação do caráter dos filhos, nos mais ínfimos detalhes.
Um deles – lembro-me muito bem -, era o cuidado com que, nas frias manhãs de inverno, ela acordava mais cedo, colocando brasa no ferro de passar roupa e, com ele, esquentava as blusas dos uniformes escolares, minha e de minhas irmãs, para que, ao vesti-las, não sentíssemos o desconforto do frio intenso.
Lembrar dessas coisas é, sem dúvidas, voltar ao passado com emoção, com saudades do tempo que não volta mais e de uma mulher, em tudo, especial!
Há, em mim, a certeza de que, se todos os homens tivessem ouvido, na primeira infância, a história do riacho e dos valentões que haviam sido mortos por pessoas aparentemente fracas e covardes, certamente haveria paz no mundo!
Estaríamos formados para a vida pois teríamos aprendido a respeitar as fraquezas aparentes ou momentâneas e não haveria lugar para atitudes belicosas, como as que vemos, no dia a dia de nossas vidas.
Reinaria a paz, nem que fosse motivada pelo instinto de autodefesa mas seria pedir muito, querer que todas as mães do mundo fossem iguais àquela que orientou meus primeiros passos, na “aurora de minha vida”...
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