quarta-feira, agosto 02, 2006

Comentando


Sob a direção de Itabajara Catta Preta e gerência de Joel Vidon ,em finais dos anos 50, circulou o Flâmula, jornal feito com esmero e para o qual colaboramos, por bom período, com nossas crônicas.
Sem dúvida, pessoas como Itabajara Catta Preta e Itamar Magalhães, só para citar dois dos mais lídimos representantes de nossa cultura, muito contribuíram para que a fracionada história desta cidade não se perdesse completamente, graças aos jornais que criaram e dirigiram, com extremo sacrifício, como sabemos.
A leitores atentos, como nosso competente João Carlos Vargas, no manuseio dos exemplares do Flâmula, não terá escapado um vocábulo com que o articulista se despede de seus leitores, o hoje desconhecido por muitos, “anauê”.
Era com esta palavra que os chamados “camisas verdes”, os integralistas, se cumprimentavam, ao se encontrarem e eles foram, aqui em Muriaé, tão numerosos quanto sonhadores! A palavra, incorporada ao Movimento Integralista Nacional, criado por Plínio Salgado e que se baseava no tripé “Deus -Pátria e Família”, era de origem indígena e o movimento, desarticulado por Getulio Vargas, conseguiu reunir os mais expressivos intelectuais da época, com Gustavo Barroso, Dom Hélder Câmara e o próprio Plínio Salgado, poeta, filósofo e escritor de nomeada.
Símbolos do Integralismo, a camisa verde e a letra grega sigma, que tem o significado de somatório, na matemática passaram a ser vistos com desconfiança pelo sistema, assim como o anauê, a saudação a que nos referimos anteriormente.
No lugar do Integralismo, surgiu o PRP – Partido de Representação Popular, de que o Flâmula era o porta-voz em Muriaé e região.
Ao manusearmos o número 20 deste jornal, editado em 27 de março de 1958, deparamo-nos com matérias interessantes que vão desde a bem traçada biografia de Lincoln Moreira Marinho, à crônica que ressalta a vitória do Nacional sobre a Portuguesa, do Rio de Janeiro, por 3 a zero, com três gols de Corisco, um dos maiores atacantes do futebol brasileiro, ao lado do inquestionável Dominguinhos, e do campeoníssimo Marco Aurélio Moreira.
A Portuguesa era da primeira divisão do Rio e vinha de uma vitória sobre o Cruzeiro,
em Belo Horizonte, na excursão que fazia, por Minas.
O fantástico é que o jornal, em outro artigo, falava do fracasso do futebol brasileiro, nos mundiais de 50 e 54 e alertava que poderíamos perder a Copa de 58, caso não vencêssemos a tremedeira, diante dos selecionados europeus, isso em março de 1958!
A CBF contratou um psicólogo e, meses após, conseguimos nosso primeiro título mundial, ao afastar a tremedeira de que falava o jornal.
Só para estabelecer o contraste, na seleção de 2006, esta que perdeu para a França nas quartas de final, a chamada assistência psicológica, ficou por conta de um pastor de determinada igreja evangélica contratado por Kaká e Lucio e que viajou à Europa às custas dos dois jogadores...Sinais dos tempos!
Ao vencermos, em 58, com a decisiva participação de Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Didi, perdemos o chamado complexo de “cachorro vira-lata” e nos tornamos uma nação verdadeiramente respeitada no esporte bretão.
Uma nação, como vimos, sonhada por Itabajara Catta Preta, por Itamar Magalhães e por tantos outros que ajudaram a redigir a história de Muriaé e, de maneira profética, da seleção brasileira de futebol, campeã mundial, por tantas vezes!
A todos eles, nossas homenagens, quase meio século depois!