quarta-feira, agosto 02, 2006

Histórias do meu sertão

Uma das expressões mais comuns, pelo interior é “correr cotia”. Correr cotia significa se arrepender de um negócio fechado, desfazendo-o. Quem corre cotia, fica sendo conhecido como pessoa sem palavra, de pouca confiança, para negócios.
Mas, quando os dois se arrependem, não há problema, como, aliás, aconteceu com meus amigos Manuelino e Zé.
Certa feita, Manuelino se entusiasmou com a propaganda que o Zé tava fazendo de um relógio-despertador e acabaram fechando um negócio: Em troca do relógio, Manuelino deu um belo galo, que enfeitava o seu galinheiro.
Uma semana depois, o Zé descobriu que o galo era cego de um olho e foi se queixar com Manuelino:
- Mas você tinha que ter avisado que o galo era cego de um olho, reclamou o Zé.
- É, mas você também tinha que ter avisado que o seu relógio só anda atrasado! Retrucou Manuelino.
Diante de tantas queixas, os dois resolveram desfazer o negócio.
É claro que, tendo sido de comum acordo, nenhum dos dois poderia ser acusado de ter “corrido a cotia”, uma fama indesejável para eles;
Ao Zé, bastou dar um ajuste no relógio para que ele não mais se atrasasse e o Manuelino ficou todo contente, ouvindo o galo cantar toda manhã.
Mas, o que eles não sabiam é que, com a volta do galo, as galinhas do Manuelino voltaram a ter a alegria de antes, uma alegria que se foi, quando o rei do terreiro foi trocado por um velho relógio-despertador.
Afinal, em terra de cego, quem tem um olho é rei...