quarta-feira, julho 05, 2006

IMAGENS

Deve ter sido em 1958. O Colégio São Paulo atravessava séria crise por falta de professor de Química. Aliás, este defeito é crônico, em muitos colégios do interior. Aqui em Muriaé, no Colégio Estadual, tivemos a felicidade de encontrar um moço espetacular para aquela disciplina. O nosso irmão Oscar Lisboa Filho,. Quando ele se retirou do Colégio Estadual, apareceu fulgurantemente uma das maiores realidades no campo educacional de nossa terra. O extraordinário Ismar Pereira Bahia. E, com esses dois, o ensino de Química de Muriaé, nada fica a dever aos melhores. Mas, feita essa pausa necessária, vamos aos fatos.
O então Diretor do Colégio São Paulo, Cônego Ivo Sebastião da Cunha, estava pensando seriamente, em extinguir o curso Colegial naquele Educandário, justamente por falta de quem pudesse dar aulas de Química.
A situação era tão caótica que, num ano, houve mais professores de química que alunos numa sala. Não que faltasse competência às pessoas da nossa terra. O que havia era falta de tempo para se dedicarem a uma função árida, espinhosa e mal remunerada. Entre os grandes nomes que deram sua contribuição ao Colégio São Paulo, figuram o de Dr. Dória, o do Dr. Biaggio, o de Dr. Henrique, o de Dr. João Batista, além de outros cujos nomes me falham, isso só em Química.
Como o inteligente leitor pode observar, a grande capacidade profissional de cada um dos citados, só ela, seria a garantia do sucesso na atividade de Professor de Química. Mas, como médicos, muitas vezes tinham que sacrificar a profissão ou a aula. E, sendo homens de muita responsabilidade, preferiam, um após outro, largar o magistério. A medicina lucrou, mas a Educação perdeu muito.
Embaraçado com tantos problemas, foi o Diretor do Colégio São Paulo a Leopoldina e conseguiu trazer de lá um jovem que, na época, se preparava para o vestibular de Química industrial. Largando o Rio de Janeiro, veio ele para Muriaé, resolver o “problema da Química”. E não é só da Química, como também da Física e da História Natural, César Naman, este o seu nome.
Em pouco tempo, todos nós compreendemos a beleza do coração daquele jovem. Alto, enorme, inteligentíssimo, capaz, responsável, amigo e alegre. César Naum, muito cedo conquistou a amizade de todos nós. Suas aulas revolucionaram o sistema de ensino de Muriaé, ainda preso a padrões idealistas sem se importar com a objetividade que os vestibulares requerem. César Naum se apaixonou por nossa terra e por uma filha da nossa terra. Casou-se com sua doce Maria, deixando parte de seu coração nesta magnífica Muriaé, quando se transferiu para o Rio de Janeiro. Lá, se formou e era conceituado Professor, mas o destino quis nos pregar uma peça lamentável.
César adoeceu. Após longo tratamento, foi submetido a uma cirurgia, seu coração apaixonado pela doce Maria e pelas coisas e gentes da nossa Muriaé, não resistiu. E, jovem ainda, nos deixou para sempre.
Mas você, prezado amigo, de onde estiver, deverá saber que sua missão foi cumprida com muita dignidade. Nos seus trinta e poucos anos, você foi mais útil a nós, muriaenses natos e adotivos, que muitos senhores de elevada idade que andam por aí. Por isso, prezado amigo e inesquecível mestre, rendo aqui à sua memória, este preito de gratidão, em nome de todos aqueles que tiveram a felicidade de lidar com você.

Correio Muriaense 12 de julho de 1971