terça-feira, maio 23, 2006

COMENTANDO - SOBRE GENÉTICA, RELIGIÃO E BENGALADAS

Devido aos progressos da Ciência, a humanidade caminha para grandes impasses de ordem moral, como já estamos acompanhando.
Especialistas garantem que, na área da Engenharia Genética, tais obstáculos serão ainda maiores. A ponto de se tornar necessária a elaboração de um CÓDIGO DE CONDUTA, a ser seguido por todo o mundo científico.
Se tal ocorrer, o primeiro desentendimento virá de grupos religiosos que se julgam donos da verdade e da moral, em todo o universo.
Cabe lembrar que a proposta de se criar um “Conselho de Sábios” para dirimir os impasses, já foi feita, mas fadada ao fracasso, como a história registra.
Um exemplo bem recente, de que não se pode ir por outro caminho, vem do Afeganistão, onde uma nativa, chamada Mai Bibi, foi condenada pelo Conselho de Anciãos a ser estuprada por 14 homens, por ter o irmão da jovem, molestado uma garota da tribo...
Levando-se em conta o fator histórico, não se pode desprezar a incompatibilidade entre o fundamentalismo religioso e a ciência que, como água e óleo, não se misturam!
Para quem tem dúvidas a respeito, basta recordar que o poeta Salman Rushdie foi condenado à morte, por ter escrito um poema, considerado ofensivo ao Islã.
Assuntos envolvendo aspectos morais e religiosos, em confronto com a ciência, muitas vezes são resolvidos, ainda hoje à moda dirceuniana, isto é, fartas distribuições de bengaladas...
Mas, ironias a parte, basta ver em que nível está o debate a respeito da retirada de órgãos, para doação, de bebês nascidos sem cérebro que, recém-nascidos, respiram e se alimentam como bebês normais.
Em resumo, se não fosse o diagnóstico médico, com prognóstico sombrio, ninguém diria que aqueles bebês eram anormais.
Sendo assim, para a retirada de órgãos dessas crianças, o primeiro passo é dar-lhes morte caridosa e é aí que começa a discussão.
Entre os que aprovam esse tipo de eutanásia, está Amâncio Carvalho, uns dos diretores do Ministério da Saúde, e do outro lado estão católicos e o próprio Coordenador Geral dos Transplantes, do Brasil!
Temos aí, um belo dilema, como o tivemos, em relação à liberação de pesquisas com células embrionárias.
Estas questões são muito mais profundas do que se imagina, pois coloca em discussão a própria natureza humana!
Matar um ser humano, embora terminal, para salvar a vida de outro, é tornar legal a eutanásia, desde que para fins medicinais...
As recentes decisões da justiça brasileira são muito superficiais e, apenas, colocam mais lenha na fogueira.
Gostaríamos de acreditar na infabilidade da Ciência e da Religião para firmar uma posição a respeito do assunto, mas as coisas não são bem assim.
Os cientistas, assim como os religiosos são seres falíveis e o grau de complexidade moral envolvendo o assunto exige muita cautela.
Enquanto não tiver uma plena definição de todos os aspectos envolvidos num transplante de tal natureza, é bom que continuem as discussões.
Infelizmente, só nos resta esperar que, de algum lugar, surja uma luz capaz de orientar as inteligências, no sentido de sabermos o que é certo e o que é errado, neste impasse que não pode e nem deve ser resolvido com algumas bengaladas na cabeça de quem discordamos, com virou moda, no conturbado mundo de hoje...