quarta-feira, maio 24, 2006

DA EDUCAÇÃO E DE PAULO FREIRE

É constrangedor verificar que os grandes projetos de alfabetização de adultos, no Brasil, por terem se tornado uma peça publicitária, não alcançaram os objetivos almejados.
Só para citar um exemplo, o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização se diluiu com o tempo, sem os resultados esperados, apesar dos elevadíssimos custos e esforços despendidos na sua execução.
Devemos ressaltar, no entanto, que Paulo Freire elaborou na década de 70, vitorioso projeto de alfabetização de adultos, do qual participamos, como um dos coordenadores, no Morro do Perrela, em Belo Horizonte, sob o comando de D.Serafim, Arcebispo Metropolitano.
Envolvidos no movimento, católicos ou não, se utilizavam de farto material didático, elaborado de acordo com a realidade daquela comunidade e, sem grandes alardes, em pouco mais de seis meses, conseguimos que centenas de adultos saíssem das trevas do analfabetismo e ainda tivessem fôlego para prosseguir os estudos, prestando assim exames do “Madureza” ( hoje, Supletivo), com sucesso.
Formado por monitores devidamente engajados na pedagogia de Freire, o Movimento Diocesano de Alfabetização se espalhou por toda Bela Horizonte, até ser substituído pelo MOBRAL.
A espinha dorsal do método freiriano era a realidade do aluno e, para a implantação do mesmo, foi feita uma pesquisa de campo para incorporar ao processo essa realidade com todo o vocabulário que a envolvia.
Toda e qualquer tentativa de alfabetização de adultos que não abranger a realidade do aluno, segundo Freire, é fadada ao fracasso.
O despertar do interesse do educando pela aprendizagem é tarefa difícil, sendo mais adequado lidar com interesses pré-existentes, nascidos das reais necessidades de cada aluno.
”Um analfabeto, se necessitar conhecer os nomes das linhas de ônibus que servem o bairro, irá aprender a ler mais facilmente, a partir dos nomes dos bairros da cidade”, já ensinava o mestre.
Mas, em contrapartida, se a utilização de palavras que fazem parte do universo do aluno, facilita a alfabetização, fica claro que, se não houver um interesse continuado pela aprendizagem, o esforço desprendido no processo vai se diluir com o tempo e o aluno se tornará mais um daqueles “analfabetos funcionais”.
Alguns educadores preconizam, para a solução deste aparente dilema, que a sociedade, através de estímulos financeiros, passe a premiar o desenvolvimento escolar, remunerando mais quem tiver estudado, mesmo que tenha que se rediscutir a questão da isonomia salarial.
Geralmente isto não ocorre, razão pela qual o arrefecimento do interesse pelo estudo, após um breve período de entusiasmo inicial.
A educação, que deveria ser vista como um processo essencial à vida das pessoas e das nações, ainda é tida como “despesa” e, não, como investimento.
Tivesse o Brasil seguido o exemplo da Índia, hoje seriamos uma nação livre de muitos problemas que ainda nos afligem!