terça-feira, junho 06, 2006

Do Obscurantismo

Muitos de nós acreditamos que o obscurantismo, num país de milhões de analfabetos, como o nosso, seja uma força predominante, dirigindo as ações do Governo.
A razão é que os líderes, para não perderem a rédea de seus eleitores, agem como sugeria Juvenal, fornecendo ao povo o “panem et circenses”, por ser este o ideal que motiva as massas, em todo o mundo.
Isto se manifesta através de campanhas assistencialistas, como o ‘Fome Zero” e no inventivo aos esportes de massa, bem como a realização de grandes eventos, como rodeios e shows de música sertaneja que nada têm de identidade com as nossas raízes.
Só de saber quais são os ídolos populares passamos a compreender a força da manipulação exercida pelos donos do poder!
Bem mais forte do que se imagina é, pois, o poder dessa gente que investe mais em propaganda do que em sala de aula.
E, para não deixar de citar um exemplo pessoal, vamos lembrar que, na segunda metade dos anos 50, recebemos um “conselho” de um representante da diocese a que pertencíamos, no sentido de não citar Darwin em nossas aulas de Biologia, pois ele contrariava os ensinamentos sobre a existência de Adão e Eva...
Lamentamos muito mas nossa posição foi a de não ceder a esse apelo obscurantista.
Afinal de contas, acreditar ou não em Adão e Eva era um problema religioso e não biológico.
A ciência e a fé jamais poderiam entrar em choque, pois o universo de cada uma é bem distinto do da outra.
Claro que, ainda hoje, muitos procuram discutir Ciência à luz da Religião e vice-versa, forma inadequada de se buscar a verdade.
A respeito do assunto, não resta dúvida de que o fundamentalismo religioso é tremendamente obscurantista, como sempre o foi, especialmente na Idade Média.
Dispensa comentários verificar que em pleno século XXI, milhões de pessoas deixam se envolver pelos apelos das chamadas religiões da Nova Era, agrupando-se em torno de curandeiros, farsantes, charlatães, buscando a cura de doenças só existentes numa mente doentia ou sofredora, exploradas pelos ladrões da alegria que se proclamam mensageiros de Deus e vendem a palavra do Senhor, em cultos que nada têm a ver com uma verdadeira religião, voltada para o espírito e para a luz!
Assim, neste clima de mentiras e enganos, forma-se o fanatismo a ponto de já terem fundado, na Argentina, a Igreja Maradona, em homenagem ao “Santo da bola”, o infeliz ex-jogador portenho.
Diego Maradona, alçado à categoria de Santo, como muitos “Santos” aqui existem, entre nós, agindo em nome do obscurantismo...
Inútil tentar desfazer tais equívocos pois, da mesma forma que existe uma “indústria da seca”, parece existir uma outra, mais perversa, que é a do analfabetismo, que condena milhões e milhões de brasileiros ao pior tipo de cegueira – a cegueira espiritual!
A cada um de nós que aprendemos a ler e a pensar, cabe lutar contra este estado de coisas, escolhendo bem nossos representantes e fugindo de todos aqueles que dizem falar em nome do Senhor mas que agem, conscientemente ou não, em nome do obscurantismo que condena nossa gente à miséria e à morte, apesar do panem et circenses- pão e palhaços- oferecidos pelos donos do poder!