quinta-feira, junho 08, 2006

Sobre a educação formal e as experiências acumuladas no interior de Minas na década de 60

Importantes medidas estão sendo tomadas na chamada “educação formal”, isto é, naquela de responsabilidade das escolas.
Numa época recente, pensava-se que a melhor forma de aprender seria através da memorização daquilo que fosse objeto de estudo.
Sendo assim, éramos obrigados a “decorar” coisas absurdas, como tabelas, teoremas e até textos completos, de autores nacionais ou estrangeiros.
Para o “take by heart” era imprescindível a utilização de processos mnemônicos que nos ajudavam a repetir, como “papagaios”, longos textos, palavra por palavra, vírgula por vírgula.
Incrivelmente, os alunos de melhores notas eram aqueles que possuíam boa memória, mesmo que nada tivessem entendido da lição dada.
Recordamos algumas atitudes que tomamos quando assumimos a direção de uma escola, procurando romper com essa visão distorcida de educação, introduzimos o jogo de xadrez no universo escolar e incentivamos o teatro estudantil, começando pelo “Júri Simulado!”, onde temas cruciais eram debatidos, na Associação de Pais e Mestres da escola.
A distribuição de tabuleiros de xadrez pelos pátios fez com que os alunos se interessassem pelo jogo.
Sem essa iniciativa, dificilmente haveria adesão ao projeto, pois, como sabemos, “só se ama aquilo que se conhece”.
Sendo também, um de nossos objetivos, o desenvolvimento da chamada “consciência crítica” dos alunos, procuramos um meio de fazê-lo.
O mais adequado que encontramos foi o de promover, através do “Júri Simulado”, acirrados debates a respeito dos mais variados temas.
Na realização desses eventos, contamos com a participação de autoridades e da Associação de Pais e Mestres.
Homens de reconhecida idoneidade, como o Dr. Eleito Soares e Dr. Caetano Carellos se colocaram á disposição da Escola e, por várias vezes, presidiram aquele “tribunal”, diante de numerosa e atenta platéia.
O “veredicto final”, como é de se prever, vinha sempre acompanhado de palavras de sabedoria, capazes de despertar aquela consciência crítica que buscávamos.
Salientamos também que foi assim que conseguimos também inibir a venda de bebidas alcoólicas para menores que, já naquela época, causavam muitos danos, pela comercialização livre sem qualquer restrição.
Desta forma, fica patente a força da educação quando voltada para o desenvolvimento da cidadania e integrada à comunidade em que a escola estava inserida.
E se outras iniciativas foram tomadas, como o “Natal dos Pobres”, as campanhas do agasalho, todas elas tinham o mesmo objetivo educacional, como tiveram os Jogos Olímpicos da Primavera, que criamos, em 1966.
Assim, ao vermos que o Governo começa a traçar novos rumos para a educação, achamos enriquecedor falar um pouco de nossa experiência.
Mais importante que informar é formar e não se pode ver o aluno como se fosse ele um ser alienado, sem o vínculo com a sociedade que o cerca.
O xadrez na Escola obriga o aluno a pensar e, como disse Pascal, o homem é um caniço o mais frágil da natureza, mas é um caniço que pensa.
Romper com a mesmice do ensino formal, é mais que uma obrigação da escola e, neste ponto, pelo menos na teoria, o Governo está indo em boa direção.